Ana era uma menina tímida.
Tão tímida que, por vergonha, não se olhava no espelho. Não se olhando no
espelho, então, não podia ver quão aveludada era a sua pele. O quão rosa eram
os seus lábios. O quão sedosos eram os seus cabelos. O quão deslumbrantes eram
seus olhos. O quão simétrico era o seu nariz. O quão retilíneo era o seu corpo.
O quão expressivas eram as suas mãos. O quão delgados eram seus pés.
Ana não se olhava no
espelho, porque não se via nele. Um dia, Ana viu o mar e se apaixonou.
Identificou-se com ele plenamente. Então, deixando toda a timidez de lado,
tomou coragem e perguntou:
_ Oh, divino e maravilhoso mar. Águas donas desta terra. O
que vejo em ti, que reconheço em mim? Não sou nada diante de tanto poder. De
tanta imensidão. O que trago em mim que me leva a ti?
Então, o mar, como tudo que
é grande também é simples, simplesmente respondeu:
_ O que vês em mim que te lembra a ti, não é nada que se
meça. Não é nada que se compare. O que vês em mim, que te lembra a ti é o
mistério. De ser calmo, violento, raso, profundo, adorável, temível,
enigmático, revelador, finito e infinito, feio e bonito. Afinal, não há como
esconder o que se é.
Depois daquele encontro com
o mar, Ana nunca mais deixou de se admirar no espelho. Ficava horas e horas
olhando cada detalhe do seu corpo. E a cada dia descobria uma nova menina que
se tornava lentamente mulher. E quando alguém lhe perguntava:
_ Ana, o que há nesse espelho que você tanto olha?
Ela respondia:
_ O invisível.
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