domingo, 18 de setembro de 2011

ANA E O MAR

Ana era uma menina tímida. Tão tímida que, por vergonha, não se olhava no espelho. Não se olhando no espelho, então, não podia ver quão aveludada era a sua pele. O quão rosa eram os seus lábios. O quão sedosos eram os seus cabelos. O quão deslumbrantes eram seus olhos. O quão simétrico era o seu nariz. O quão retilíneo era o seu corpo. O quão expressivas eram as suas mãos. O quão delgados eram seus pés.

Ana não se olhava no espelho, porque não se via nele. Um dia, Ana viu o mar e se apaixonou. Identificou-se com ele plenamente. Então, deixando toda a timidez de lado, tomou coragem e perguntou:

_ Oh, divino e maravilhoso mar. Águas donas desta terra. O que vejo em ti, que reconheço em mim? Não sou nada diante de tanto poder. De tanta imensidão. O que trago em mim que me leva a ti?

Então, o mar, como tudo que é grande também é simples, simplesmente respondeu:

_ O que vês em mim que te lembra a ti, não é nada que se meça. Não é nada que se compare. O que vês em mim, que te lembra a ti é o mistério. De ser calmo, violento, raso, profundo, adorável, temível, enigmático, revelador, finito e infinito, feio e bonito. Afinal, não há como esconder o que se é.

Depois daquele encontro com o mar, Ana nunca mais deixou de se admirar no espelho. Ficava horas e horas olhando cada detalhe do seu corpo. E a cada dia descobria uma nova menina que se tornava lentamente mulher. E quando alguém lhe perguntava:

_ Ana, o que há nesse espelho que você tanto olha?

 Ela respondia:

_ O invisível.


Nenhum comentário:

Postar um comentário